segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Sociologia - Theodor Adorno

Por:  Felipe Becari Comenale


Em uma filosofia baseada na dialética, Adorno considera a atual civilização como técnica, onde o homem não representa mais do que um domínio racional sobre a natureza, o que implica paralelamente em um domínio irracional sobre o homem. Quanto à racionalidade da civilização atual, que aparenta ser crescente e muito grande, Adorno utiliza do pensamento de Freud, quando diz que a partir de tanta racionalização, a civilização cria a “anticivilização” (quanto mais racional, mais irracional). Isto é traduzido pelo mundo da tecnologia em que vivemos, onde se criam pessoas “tecnológicas”. Estas são frias, negando no seu íntimo a possibilidade de amar, cortando o amor pela raiz. O amor dessas pessoas, na verdade, foi absorvido pelas máquinas, o que faz que cada ser humano considere que não é amado, quando na verdade não sabe amar outra pessoa. Por isso as pessoas de homem sentem-se tão mal-amadas, pois são incapazes de amar o suficiente. Esse amor (a falta dele) pode ser vista na família, diante dos pais que pouco passam ao lado de seus filhos, dominados pela racionalidade e o trabalho, a produção, permanecendo longe de casa quase que em totalidade. Quando tentam amar, fugindo do mundo capitalista (o qual Adorno vai contra), transparecem um amor artificial que acaba sendo absorvido, ou seja, os filhos percebem ou simplesmente absorvem, transmitindo o mesmo para as próximas gerações e tornando o mundo mais frio, ou diria, “maquinário”? Nas outras relações, como advogado-cliente, médico-paciente, professor-aluno, entre outras, também é clara a impossibilidade de pleitear o amor.

Portanto, como fundamento de culpa, Adorno cria o termo “indústria cultural”, que mantém as pessoas focadas na produção, à homogeneização, às técnicas de produção infinitas, que não deixam de ser fenômenos modernos de barbárie, assim como o nazismo e o fascismo. Isto se dá, segundo Adorno, pois quem dita o ritmo e as técnicas de produção são aqueles que possuem o poder, os economicamente mais fortes. Além disso, a “indústria cultural” não só implica como impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar e decidir conscientemente. O próprio ócio do homem (seus momentos de folga e de lazer é dominado pela indústria cultural, já que esta indica quais são os “produtos” indicados para os momentos de ócio. Vale a pena acrescentar que isso ainda não acontece em totalidade, pois mesmo em momentos de lazer ou necessidade, como na hora das refeições, os indivíduos conversam sobre trabalho, trabalham de fato, ou as vezes até deixam de se alimentar para “adiantar o trabalho”.

Relacionando estes pensamentos com o texto estudado no momento, “EDUCAÇÃO APÓS AUSCHWITZ”, Adorno associa o holocausto ocorrido na Alemanha, quando nazistas cometeram o genocídio contra os judeus, com a sociedade da tecnologia, que pouco ama, que apenas reproduz, que se omite, que dá pistas de uma nova Auschwitz. Adorno diz que a Educação é o caminho ideal para derrubar indícios de novos genocídios, genocídios modernos, como os que aparentam acontecer constantemente. Ele argumenta que todo indivíduo deve conhecer esse fato histórico, estudá-lo e tomar atitudes como forma de prevenção. O indivíduo que se omite é errado, pois contribui ou se sujeita a novas barbáries. Portanto, a educação deve ser tratada como ponto essencial, primordialmente, já na 1ª INFÂNCIA, nas escolas, para depois, com os indivíduos mais velhos, serem aprimorados os conceitos importantes contra as barbáries. Esse ensino deve ser conteudísta, não importando de onde que os escolares venham, ou seja, todos devem receber todas as instruções para se tornarem indivíduos ativos e não passivos às guerras, pois humanamente falando, todos são iguais, inclusive os judeus e os nazistas. Que se criem sujeitos autônomos (que questionem o valor, o porquê, a definição, que tenham atitude individual) e não heterônimos (que submetem-se aos que estão acima, que aceitem ou sigam fatos já determinados). Acrescentando, Adorno também argumenta (opostamente à Durkheim e na mesma linha de Foucault), que os indivíduos devem fazer valer sua posição individual, para assim progredir e ir contra a barbárie. Alienando-se à um grupo, dentre os grupos sociais que existem, ele estará mais em confronto com outros grupos, gerando mais guerra, mais conflitos, por vezes nem sabendo o motivo que leva esses grupos sociais estarem em desacordo. Por fim, Adorno diz que devem ser trabalhados os pontos negativos da história, para assim aprender a lidar com eles, ou seja, que não se estudem as vítimas, mas sim os assassinos, investigando tudo o que pode ter vindo a torná-los assim, para assim entendê-los e ajudá-los (ajudando e prevenindo a sociedade de um novo genocídio, aparente a partir da frieza da burguesia). Não se deve esconder o medo e basear-se apenas nas coisas boas, pois assim o mal e a barbárie permanecerão sob status de terror, daquilo que não se pode vencer.

Trechos importantes, retirados dos conteúdos obtidos em sala:

1º trecho:
“O desenvolvimento das razões modernas decantadas pelo Iluminismo como meio de emancipação e libertação do homem, convertem-se nas formas assumidas pela técnica e a ciência, um meio inédito de aprisionamento e de não resolução desses dilemas históricos. Segundo aqueles autores, o Iluminismo tornou-se totalitário. Essa razão transformou-se em razão instrumental alienacito e dominacito, as sociedades e os homens ocidentais pela coisificação, ou seja, tornando-os seus objetos e produzindo uma nova irracionalidade”.

Meus comentários sobre o trecho: Adorno quer dizer que na sociedade da tecnologia, do Iluminismo (o qual Adorno é contra, pois o associa com liberdade + barbárie = cegueira e destruição), os indivíduos acabam dotados por uma consciência “coisificada”, ou seja, um consciente que rejeita tudo que é conseqüência, todo conhecimento do próprio desenvolvimento humano, aceitando por outro lado, de forma incondicional, o que já está dado, às coisas, e não aos porquês. É um mecanismo compulsório, que fortalece a sociedade da tecnologia, cega e passível a um novo genocídio.

2º e último trecho:
“O mergulho na barbárie, exemplificada historicamente ao extremo pelo nazismo, deve ser compreendido, na época industrial, não como resultado da ausência ou da insuficiência da razão, mas ao contrário, como resultado do excesso dessa racionalidade instrumental. As bases sociais e psicológicas dessa barbárie encontram-se presentes na civilização e cultura modernas, pela conversão do sujeito em coisa (objeto)”.

Comentários sobre o trecho: É o que foi dito até agora, que na sociedade atual, onde o amor é raro e a tecnologia prevalente, o indivíduo acaba se tornando objeto do próprio mundo em que vive. Como tradução disso, é o indivíduo que vive produzindo ou vendendo seu produto, dias e noites, em casa ou na rua, sem folgas, com trabalhos em períodos irreais.



Complemento para os estudos:

Olgária Matos analisa o pensamento de Theodor W. Adorno
Wikipédia - Theodor_W._Adorno

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