segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Antropologia - Indígenas: Selvagens ou Civilizados?

Por:  Felipe Becari Comenale 


A pré-história da antropologia (descoberta dos viajantes do século XVI)

· Principal questionamento na avaliação de um ser para atribuir-lhe a condição humana: Ele tem uma alma?

LAS CASAS (DOMINICANO): Admirava os indígenas:

“Aqueles que pretendem que os índios são bárbaros, responderemos que não são, pois têm aldeias, ordem política e as vezes melhor do que a nossa. Estes povos igualam ou até superam muitas de nossas nações. Também superam a Inglaterra, a França e algumas regiões da Espanha”.

SEPÚLVERA (JURISTA): Condena os indígenas:

“Aqueles que superam os outros em prudência e razão, mesmo que não sejam superiores em força física, são por natureza senhores. Ao contrário, os preguiçosos, mesmo que, tenham as forças físicas para cumprir toda a tarefa necessária, são por natureza cervos. E isto é justo e útil, pois são todos bárbaros e desumanos, estranhos à vida civil e será sempre justo conforme o direito natural que essas pessoas sejam submetidas ao império. E se, por ventura, recusarem este império, podemos impô-lo. Pode-se usar armas que a guerra ainda seria justa, bem como declara o direito natural, pois os homens honrados, inteligentes e virtuosos dominam aqueles que não têm essas virtudes”.

Assim, desenha-se a figura do MAU SELVAGEM x BOM CIVILIZADO, que prevalece nesse momento histórico.
SEPÚLVERA baseou-se em 3 pontos principais para criação de sua tese:
1) Aparência física (eles estão nus ou vestidos de peles de animais)
2) Comportamento alimentar (eles comem carne crua e também o imaginário do canibalismo)
3) Inteligência (a língua dos índios era ininteligível)

Em suma, sob ponto de vista dos europeus, o índio:

· Não acreditava em Deus
· Não tinha alma
· Não tinha acesso à linguagem
· Alimentavam-se como animais

CORROBORADORES DO PENSAMENTO DO MAU SELVAGEM x BOM CIVILIZADO: século XVIII:

HEGEL (oposto a Rousseau): “Introdução à filosofia da História” – Falava dos negros da áfrica:

“Os negros não respeitam nada, nem mesmo eles próprios, já que comem carne humana e fazem comércio desta carne, também vive em uma feracidade bestial inconsciente de si mesma. mão tem moral, nem instituições sociais, religião ou Estado. O negro nem mesmo se vê atribuir o estatuto de vegetal, ele cai para o nível de uma coisa, um objeto sem valor”.

CORNELIUS DE PAUW: (Pesquisas sobre os Americanos ou Relatos Interessantes para servir à História da Espécie Humana) – Falava sobre os índios da Califórnia:

“Um temperamento tão úmido quanto o ar e a terra onde vegetam. É o que explica que eles não tenham nenhum desejo sexual, parecem mais animais que vegetais, eles são de uma preguiça imperdoável, não inventam nada, não empreendem nada. São covardes e o desânimo e a falta absoluta daquilo que constituem um animal racional os tornam inúteis para si e para a sociedade, enfim, os californianos vegetam mais do que vivem e somos tentados a recusar-lhes uma alma”.

Já quanto a figura do BOM SELVAGEM x MAU CIVILIZADO (século XVIII)

JEAU KACQUES ROUSSEAU (oposto a Hegel):

“Os homens nascem puros e eram corrompidos pela civilização”

AMÉRICO VESPÚCIO: viajante (século XV, já demonstrando raízes desse pensamento):

“As pessoas são bonitas e de pele escura, e tudo é colocado em comum (compartilham tudo). Os homens tomam por mulheres aquelas que lhes agradam, sejam elas mão, irmã ou amiga, sem nenhuma diferença. Eles não têm governo e vivem cinqüenta anos”.

CRISTÓVÃO COLOMBO (século XV, aportando no Caribe):

“Eles não sabem se matar uns aos outros, penso que não haja no mundo homens melhores, como também não há terras melhores”.

LA HONTAN (livre pensador):

“Ah! Viva os Hurons quem sem lei, Semp prisões e sem torturas passam a vida na doçura, na tranqüilidade, e gozam de uma felicidade desconhecida dos franceses”.


Mudança na história...............

Com a revolução industrial inglesa e a revolução política francesa, percebe-se então que a sociedade mudou, tendo a Europa uma conjuntura inédita: seu modo de vida era outro e suas relações sociais também.

Neste contexto, acontece o tratado de Berlim (1855), no qual foi partilhada a África em prol das nações européias.

Deste modo, europeus passaram a residir nestes territórios partilhados, portanto, não precisaria mais de nenhuma missão para obter governo desses territórios partilhados, precisava simplesmente de sua administração.

Enquanto alguns, tais como De Pauw e Hegel, denominavam populações não civilizadas aquelas que se situavam enquanto espécie fora da história, HAECCKEL afirmava rigorosamente o contrário, ou seja, que a antogênese reproduz a filogênese, ou seja, o indivíduo atravessa a mesma fase que a espécie. A história sobrepõe as espécies naturais.

EM SUMA, ESSE PERFIL TRATA O INDÍGENA COMO PRIMITIVO E NÃO SELVAGEM. ISTO SIGNIFICA DIZER QUE PASSOU A SER CONSIDERADO COMO ANCESTRAL DO CIVILIZADO, FUNDAMENTANDO OS PROCESSOS DE COLONIZAÇÃO. SÃO TEMPOS MODERNOS, EVOLUCIONISTAS

Entra em cena CORNELIUS MORGAM (JURISTA, SÉC. XIX), que corroborou o pensamento EVOLUCIONISTA:

1) Populações que aparecem sendo mais arcaicas do mundo: O ABORÍGENE AUSTRALIANO
2) Estudo do parentesco, procurando evidenciar a anterioridade histórica dos sistemas de filiação matrilinear sobre o sistema patrilinear
3) Religião, pois, mitos, magias e religião eram decisivos para que considerássemos um povo mais “primitivo” que outro.

Porém, o pensamento EVOLUCIONISTA recebeu duas séries de críticas, sendo:

1) Por medir o “atraso” das outras sociedades na visão e critérios de outras sociedades (do Ocidente) no século XIX, ou seja, o progresso técnico e econômico de nossa sociedade sendo considerado como a prova brilhante de evolução.
2) O evolucionismo aparece como justificação teórica de uma prática (criação da justificação teórica para a realização de uma prática).
Refletindo...........

É difícil julgar esses pesquisadores por não terem sido de fato “pesquisadores” (Ex: Morgan era jurista).
O evolucionismo é anti-racista e trabalha por aspectos econômicos.
É fato a contribuição do evolucionismo para a antropologia, já que foi ele que deu o impulso para que a antropologia tivesse um objeto próprio e uma autonomia necessária..

Agora sim, os antropologistas........... século XIV e XX:


BOAS (homem de campo):

Pesquisas pioneiras, iniciadas nos últimos anos do século XIX. Ele dizia que no campo, tudo devia ser anotado: desde os materiais constitutivos das casas até as notas das melodias cantadas pelos Esquimós, tudo isso com detalhes.

Diz que um costume só tem significado se for relacionado ao contexto particular no qual se inscreve. Para ele, não objeto nobre nem indigno da ciência. Foi um dos primeiros a mostrar a importância do acesso à língua da cultura na qual trabalha.

Características notáveis:
1) Nunca escreveu um livro nem artigo apenas para um público, e sempre com emoção.
2) Nunca formulou uma verdadeira teoria. Mesmo assim, sua influência foi considerável. Foi um dos primeiros etnógrafos.
MALINOWSKI (objeto: funcionalismo, que esteve em descrédito por ser muito rígido):
Assim como BOAS, era um homem de campo e procurava viver com as populações que estudava, recolhendo material suficiente para suas teorias. Viveu nas ILHAS TROBIANDI.
Considera que uma sociedade só deve ser estudada enquanto uma totalidade, diferentemente de BOAS. Em “OS ARGONAUTAS”, quem tem como objeto o estudo dos Trobiandeses nos mostra que os costumes deles são completamente diferentes dos nossos. Todavia, assim como os nossos, tem coerência e significação. Devido a esses estudos, os atuais antropólogos estão convencidos que as sociedades diferentes das nossas são tão humanas quanto as nossas.

Elaborou a TEORIA FUNCIONALISTA, onde o indivíduo sente um certo número de necessidades e cada cultura tem precisamente como função satisfazer à essas necessidades fundamentais.

Outra característica do pensamento do autor é que o homem deveria ser estudado através da tripla articulação
(BIOLÓGICA, SOCIAL E PSICOLÓGICA).

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